quarta-feira, 1 de julho de 2009


A DIFÍCIL LEMBRANÇA

Gostava muito de acompanhar meu pai nas suas viagens, e ele gostava muito da minha companhia. Minha madrinha de batismo Herminia Barros que residia no Rio de Janeiro convidou-me para visita-la. O navio que meu pai trabalhava(como moço de convés) iria a Santos e quando voltasse pararia no porto do Rio e assim meu pai me pegaria para voltarmos para casa em Maceió.

Tudo pronto para a viagem de volta. Não lembro a data da saída do Porto do Rio de Janeiro para Vitoria. Na Bahia houve uma demora significativa na saída dos três primeiros navios que brevemente seriam torpedeados(Baipendí, Aníbal Benévolo e o Araraquara).Todos achavam que alguma coisa não estava indo bem.Mas logo veio a justificativa, o atraso deu-se por conta do desarranjamento do encanamento de água destinado a abastecer as navegações. Supõe-se que assim deu-se tempo para que o inimigo submarino U-507 preparar-se.Ficando assim em ponto estratégico para os seus ataques.Infelizmente esse submarino comandado pelo almirante Karl Doenitz obteve exito nesses ataques.

A partida do navioItagíba de Vitoria do Espírito Santo com destino a Bahia aconteceu no dia 15 de Agosto do mesmo ano as 6:00 horas da manhã .Até o inicio do dia 17 de Agosto fizemos uma boa viagem , neste dia porém as 10:50 da manhã fomos surpreendidos por uma explosão que gerou um estremecimento geral no navio. Alguém falou "FOMOS TORPEDEADOS" e mais uma vez o submarino U-507 atacava.Naquela hora eu me encontrava brincando com uma vassoura próximo a bomba da água. Quando olhei para cima vi meu pai descendo o passadiço e correndo em minha direção e me pegando pela cintura e levando-me com ele.Juntos subimos para onde ficavam as baleeiras.

Sinto a mesma sensação daquele dia , muita fumaça da chaminé e um apito que jamais
esquecerei..Como se fosse o adeus do Itagíba.Meu pai colocou-me em uma baleeira com suprimentos e água, pois todas as baleeiras continham esses suprimentos.Dentre eles estava uma caixa de leite condensado da Nestlé vazia.

no mar mais não distante o suficiente o navio começou a adernar e junto com o mastro veio em nossa direção partindo a baleeira. Os fios do telégrafo levaram meu pai para o fundo do mar e alguém me colocou dentro da caixa de madeira de leite condensado dizendo" não solte" , todos nos estavamos na água.Não tào distante dali vinha o navio Arará que tinha como destino Santos.O mesmoo avistou nosso navio afundando 6 milhas da sua rota. Imediatamente se dirigiram ao nosso socorro.E mais uma vez o insaciável submarino U-507 atacou sem piedade alguma o Arará.Assim conseguindo levar ao naufrágio 5 navios brasileiros em 2 dias.

De acordo com o relato das pessoas que procuravam por sobreviventes fui encontrada após ficar três horas a deriva dentro daquela caixa.Eu fui uma das ultimas a ser recolhida. Meu pai salvou-se cortando os fios e subindo com a bacia fraturada, ele foi para o hospital Português da Bahia e eu fui para casa do prefeito de Valença, pois não sofri nenhuma lesão. Nesta casa encontrei uma moça de nome Nilza que era sua filha.Brincando em uma escada por ironia do destino cai e fraturei o o braço esquerdo e assim indo parar junto ao meu pai no hospital.(Não tenho noticias dessa família que me acolheu).

A Nestlé presentiou-me com uma boneca e um envelope que continha um conto de Reis e em seguida oferecendo a minha mãe toda minha educação por conta deles na cidade de São Paulo.Mas mediante ao acontecimento que poderia ter me separado para sempre dela não aceitou.

Como me sinto...Símbolo da resistência!!!

Hoje Psicologa aposenta,viuvá , tenho 3 filhas , 3 netos e 2 netas.Todas as vezes que ouço ou vejo alguma coisa sobre a guerra fico com a sensação de estar revivendo aquela data inesquecível para mim e para muitos.

Abaixo as fotos após o naufrágio:


Meu pai e eu nos recuperando do Naufrágio no hospital Português na Bahia


Eu,meu pai recebendo uma pequena homenagem do representante da Nestlé